Vajradhara |
A prática de Chakrasamvara foi impulsionada no século VIII por Luipa, Darika e Ghantapa na Índia. Séculos mais tarde, esses ensinamentos passam a ser praticados no Tibete pelos núcleos originais das escolas Kadampa e Sakya e, finalmente, pela tradição Jonang-Zhalu, sendo enfatizada por Dölpopa em alguns de seus textos, com em A Montanha do Dharma.
Posteriormente, o tantra ganha grande importância na escola Gelugpa, sendo enfatizado por Tsongkhapa. No século XX/XXI, a linhagem conta com eminentes nomes da escola Gelugpa como Pabongka Rinpoche e Trijang Rinpoche.
Trata-se de um tantra-mãe, ou seja, voltado para a bem-aventurança.
Shri Heruka é o nome da deidade principal do tantra Chakrasamvara, representando a compaixão irada e indestrutível, manifestada a partir de Vajradhara. Sua consorte, Vajravarahi, é devotada ao serviço compassivo a todos os seres.
Heruka e Vajravarahi |
De Heruka derivam dois outros tantras: Vajrayogini (com ênfase somente em Vajrayogini) e Hevajra (enfatizando a união da grande compaixão com a sabedoria).
Vajrayogini |
Chakrasamvara significa a integração de todos os círculos (do corpo, fala e mente e de todos os heróis e yoginis e a integração de todos os fenômenos no aspecto de uma deidade).
Em Heruka/Chakrasamvara se enfatiza a união do vazio com a compaixão (Karuna). Na perspectiva Jonang, se trata do Vazio de Outro, indestrutível e permanente, de onde emana a própria compaixão indestrutível.
Sobre o Vajrayana
Cabe ressaltar que, como em qualquer tradição idônea do Dharma, os ensinamentos e práticas avançadas, vinculados ao tantra ou ao chamado Vajrayana (Veículo Adamantino - o veículo do tantra), eram reservados a praticantes avançados e com uma base e conduta ética conforme os ensinamentos estabelecidos no Mahayana, sendo necessário tomar votos Mahayana e, posteriormente, votos Vajrayana.
Mesmo as práticas mais básicas não devem ser praticadas por quem não recebeu a transmissão de tais ensinamentos de forma minimamente adequada.
O termo Tantra, em sânscrito, pode significar “tratado” ou “exposição”, também pode ser entendido como um continuum de práticas meditativas. É um caminho esotérico com meditações e visualizações profundas para praticantes avançados, não devendo ser banalizados, uma vez que tais visualizações e exercícios respiratórios ativam os canais e chakras do corpo, podendo ser danosos à mente de um praticante sem base adequada e aumentar as suas perturbações mentais.
O uso de imagens de relações sexuais entre deidades masculinas e femininas tem caráter simbólico e representa a união das polaridades dentro de nós. Tais imagens não devem ser tomadas ao pé da letra, nem como um manual de práticas sexuais, como fazem falsos gurus, abusadores e escolas mal intencionadas, nem se deve utilizar de práticas ou relações sexuais (ou "magia sexual") na prática tântrica.
Buston Rinchen (1290-1364), importante expoente da tradição Jonang-Zhalu, em sua organização do cânone budista indo-tibetano, separou os tantras idôneos (novas traduções/ organizadas pelos núcleos Kadampa, Sakya, Jonang e Zhalu originais) dos não idôneos (velhas traduções/nyingma). Ou seja, separou as práticas e textos adequados e que tinham respaldo em fontes sânscritas daqueles que haviam deturpado os ensinamentos. Essa sistematização do cânone feita por Buston foi adotada também, posteriormente, pelo núcleo Gelugpa original de Tsongkhapa.
Buston Rinchen (1290-1364), abade do Mosteiro Zhalu |
Texto escrito por Bruno Carlucci em 2017, revisado em 2018.