Sílaba Kalachakra

Sílaba Kalachakra

Os Três Giros

Os Três Giros da Roda do Dharma

A tradição Jonang-Zhalu enfatiza os ensinamentos do chamado Terceiro Giro da Roda do Dharma.
Na Tradição Mahayana, fala-se em três giros:


Roda do Dharma


O primeiro giro se refere às quatro verdades expostas pelo Buddha Shakyamuni – 1) Há sofrimento (dukkha) na vida; 2) o sofrimento tem uma causa (avidya – a ignorância que nos faz perceber o eu e os fenômenos como dotados de existência inerente e independente), 3) é possível se libertar do sofrimento; 4) há um caminho que conduz à libertação do sofrimento.

O segundo giro se refere à exposição dos sutras PrajnaParamita (séc. I) e os ensinamentos vinculados à perspectiva do vazio de existência inerente do eu e dos fenômenos (shunyata). E incluem os ensinamentos posteriormente enfatizados pela escola Madhyamaka, fundada por Nagarjuna (séc.II).
O terceiro giro trata da Natureza-Buddha e se vincula aos sutras Tathagatagarbha (séc. III) e à ênfase posteriormente dada pela escola Yogacara, fundada por Asanga (séc. IV), como nos 5 Tratados de Maitreya, que discorrem sobre uma natureza indestrutível, uma realidade última que é a essência de tudo, a Realidade Última.

Muito embora, grande parte da tradição Mahayana posterior tenha considerado os ensinamentos do terceiro giro como ensinamentos de significado provisório, ou até mesmo caído em equívocos e distorções acerca do que de fato seria a Realidade Última (como chegando a associá-la ao continuum mental [citta]).

 A tradição Jonang-Zhalu enfatiza que tais ensinamentos são de significado último, complementando os giros anteriores e esclarece os equívocos e distorções. Ou seja, não foram elaborados apenas para estimular praticantes que ainda não estariam preparados para aceitar a perspectiva shunyata, mas, pelo contrário, para complementar tal perspectiva, mostrando que além do vazio de eu e fenômenos, há uma realidade plena e vazia de tudo que não é a própria Realidade, o Vazio de Outro (Shentong).

Nesse sentido, pode-se dizer, que na visão Jonang-Zhalu, vinculada aos ensinamentos do terceiro giro:

- há uma realidade relativa para eu e fenômenos (como a percebemos cotidianamente, como dotados de substancialidade).

- há uma verdade última dos fenômenos, ou seja, o eu e os fenômenos são vazios de existência inerente (carecem da substancialidade aparente ou relativa, a qual se manifesta por meio de causas e condições interdependentes). Perspectiva shunyata. Visão Rangtong

- há uma realidade última que é indestrutível, impessoal, incognoscível, permanente e é a base ou essência de tudo que se manifesta. Vazio de Outro. Visão Shentong.

Reconhecer a Realidade Última, explicada e enfatizada pela escola Yogacara, portanto, de modo algum implica em negar as verdades dos fenômenos ou da realidade relativa, enfatizadas pela escola Madhyamaka.

Texto escrito por Bruno Carlucci, 2016.